sábado, 24 de abril de 2010

24 de Abril de 1974

Quantos Portugueses perderam a vida, em defesa de um
conceito político-social ditatorial, ultrapassado pela história e pela luta dos povos nativos das colónias? O regime Português não foi capaz de entender que não se vencer uma guerra, contra um opositor que recebe o suporte do povo, porque dele emana, como movimento. Assim, igualmente, não foi capaz de perceber como o seu próprio povo, aos poucos, lentamente, mas inexorávelmente, preparava a madrugada libertadora.
Mas a pergunta fica no ar: quantos Portugueses perderam a
vida? Mas não podemos contar, apenas, os caídos em combate.
Temos que contabilizar, igualmente, os que morreram de doença,
de stress, incapazes de ultrapassar o que viveram, os pais e as mães
que perderam os seus filhos. Quantos?
Relembro Fernando Pessoa:




O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Por: José Pedro Turner

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